A Arquitetura da Ascensão – Capítulo 3.6
A vida nos traz desapontamentos e não são poucos. Estava triste por estar me desentendendo com meu esposo. Não queria de forma alguma que nossos sentimentos estivessem atravessando uma situação tão desconfortável. Nossa amizade e carinho continuavam como sempre aflorados. Mas… algo estava desafinando o nosso relacionamento. Sentia-o diferente desde que voltou de sua viagem ao Maranhão. Estava mais feliz e seus olhos brilhavam como adolescente. Vivia acessando o computador. Talvez estivesse se encantado com alguma garota bonita durante a sua viagem. Não deveria achar estranho se estivesse ocorrendo algum “caso extraconjugal”. Nunca lhe perguntei! Afinal, eu tinha mudado muito. No momento que eu assumi ser mensageira da espiritualidade deixei de ser aquela Berenice sexy, charmosa e destaque da sociedade. Com certeza meu esposo não mais admirava a minha pessoa como a sua mulher disponível e liberta nas minhas atitudes. Literalmente passei a me dedicar ao mundo espiritual, recebendo mensagens com alterações físicas na voz, movimentos do corpo, expressão no rosto. Meu plexo solar tremia muito quando recebia canalizações das altas esferas. Minhas mãos psicografando com velocidade nada tão belo para uma mulher que até então foi elegante. Ao piano continuava com a disciplina rígida tendo pouco tempo para uma vida a dois. Meu casamento estava chegando ao fim. Não deixei de ser a esposa ou mulher, mas, com certeza o tesão diminuiu aos olhos do meu esposo. Não poderia deixar de lhe dar razão. Nenhum homem de bom senso se aproximaria da minha pessoa para namorar. Entrar no ritmo da minha nova vida teria que ser alguém muito especial, diferente! Particularmente eu estava bem em todos os sentidos.
Como mensageira da Grande Fraternidade Branca Universal qual sempre fui dirigida pelo Mestre El Morya não tinha dúvidas de como realizar a minha missão. Eu dirigia um grupo de 72 seguidores em nossas reuniões com rituais canalizados. Meu esposo ajudava-me nas reuniões representando um sacerdote. Nossos rituais eram feitos às quartas-feiras pontualmente às 20:00 horas. Hoje não tenho mais aquele grupo. Com a minha ausência devido as viagens internacionais aos Templos dos Mestres Ascensionados o grupo foi diminuindo até se extinguir.
Com o tempo se passando eu precisava me organizar para a viagem de navio. Não faria turismo. Sabia que ficaria mais ou menos reclusa, meditando com a Mestra Astúrias, rainha do mar.
Enquanto eu me adiantava nos compromissos da minha agenda, organizando-me como profissional, chegou o dia que aceitamos um convite para jantar na casa do “007”. Chegando pontualmente em sua residência não demorou quase nada para eu ouvir e “ver” crianças espirituais debaixo de um móvel da sala de jantar. Elas eram anjos, brincavam muito, riam e falavam demais. O “007” notando o meu transe, perguntou-me:
—Quem você está vendo? É alguma macumba feita na minha casa?
—Não. Não mesmo. Aqui não há macumba, respondeu-lhe o Galileu dos Sons acoplado no meu corpo.
—Aqui nesta sala, vocês estão sendo visitados por crianças espirituais. Elas são anjos. Continuou falando Galileu, através do meu corpo. Não me assustei com aquela revelação. Estava acostumada a “ver” anjos por toda a parte. Cheguei a imaginar que o “007” pudesse vir a ser o futuro pai físico de algumas daquelas crianças. Ele tinha se tornado pai solteiro aos 21 anos de idade desejando se casar, ter gêmeos, família bem unida e com uma mulher perfeita.
Naquela noite jantamos tranquilamente em sua residência. Não demorou para notar o “Barba Azul” ficar com “Barba Vermelha” tanto molho da massa italiana. Rimos muito e com a brincadeira e comentários sobre comida italiana, japonesa e mineira acabei contando ao meu amigo “007” que nunca gostamos da comida japonesa. Ele ficou surpreso com a revelação disse-nos:
—Por que não me contaram?
Eu lhe respondi:
—Você sempre pôs a mesa a comida japonesa e nunca nos perguntou se apreciávamos. Fomos educados. Mas… já que nos tornamos amigos podemos ser verdadeiros, não é?
Vai papo aqui e ali, estávamos bem felizes. O “007” sempre engraçado fazia-me rir e muito. Nesta mesma noite conversávamos sobre a minha viagem de navio. Meu amigo e patrocinador “007” demonstrava preocupação sobre a minha comodidade no navio. Dizia-me que eu deveria ficar na melhor suíte. Ele pediria uma reserva e que jamais eu pensasse nas despesas. Tudo seria por “conta” dele.
Ao sair de sua casa fiquei pensando como aquele anjo empresário “caiu do céu”. Sim! Um milagre tinha acontecido. Empresário financiando a minha missão espiritual? Ele não estava com a atenção no meu rosto gordinho, barriga saliente, bumbum grande, baixinha e muito longe de ser uma miss. Consegui compreender que ele agradecido pela sua cura física e percebendo o quanto eu me doava aos humildes ficou sensibilizado. Percebeu que eu deixava de comer “ralando” muito para também manter meu programa de rádio que não posso negar, caríssimo, qual eu transmitia as mensagens dos Mestres ascensionados. Sim. Ele veio para somar, diretamente enviado por um Ser Superior. Daquele momento em diante deixei de ser crítica e orgulhosa. Entendi e cessei as discussões com o meu esposo. Coloquei na minha mente que eu tinha um patrocinador exclusivo e ponto final. Deveria agradecer e desconfiar menos.
Depois de alguns dias a situação começou a ficar mais clara entre eu e o anjo “007”. Ele estava sentado bem à frente da minha mesa no consultório. Foi levar sua filha para ser atendida por mim e pela equipe. Aproveitei que ele estando de costas, examinei-o melhor e, desta vez não como terapeuta e sim com os olhos femininos. Intrigava-me. Aquele jovem rapaz cuidava-me, deixando de namorar, dedicando-se como ninguém à espiritualidade. Inevitável pensar o quanto ele era generoso, até que ouvi o Galileu pronunciar no meu ouvido:
—Você se casará com este rapaz. Não adiantará fugir!
Eu gelei, retruquei:
—Agora não é momento de você vir brincar comigo, certo “GS”?
Fiquei arrepiada e nervosa naquele momento. Jamais me casaria com aquele rapaz. Primeiro, porque amava o meu esposo; segundo, porque eu tinha preconceito. Não gostava de homens mais jovens em nenhum relacionamento. Homem deveria ser mais velho que a mulher; terceiro, aquele jovem deveria constituir uma família; quarto, eu jamais terminaria o meu casamento com o meu esposo porque sempre fomos perfeitos um para o outro. Nunca! Jamais!!!
No final do dia ao chegar em minha casa fui correndo contar para a minha secretária do lar o que o Galileu me disse. Ele nunca errava e quando dizia podia acreditar, aconteceria. Não haveria falha. A secretária do lar trabalhava há muitos anos comigo. Trocávamos até confidências. Ela me ouvia e dados momentos eu chorava muito. Naquela tarde após a revelação com Galileu, abracei-a e soluçando, contei-lhe os detalhes que o “repórter” do céu – “GS” da espiritualidade tinha me alertado.
Em casa. Perto das 21:00 horas ouvi a campainha do meu apartamento tocar. Retirei-me educadamente da sala antes do “007” entrar. Como sempre acontecia meu esposo o recebeu e tomando um copo de vinho, ficaram conversando na sala azul.
No dia seguinte, meu esposo todo nervoso foi falando:
—O “007” irá com você fazer a viagem de navio. Eu não poderei lhe acompanhar. Não gosto do mar e, vou precisar ir ao Maranhão a trabalho. Como ele está próximo a você, fizeram boa amizade e ele já conhece as suas canalizações, confio-lhe você aos cuidados dele. É mais jovem com condições financeiras muito boas podendo lhe cuidar bem. Por amor renuncio ao nosso casamento e outras tarefas para o seu bem e da própria espiritualidade.
Sabendo que viajaria com aquele rapaz a minha reação não poderia ser diferente. Desabei. Chorei como nunca. Como viajar com ele? Soube que todas as cabines Vips não estavam livres. Teríamos que dormir em camas separadas e na mesma cabine. Morreria de vergonha viajar com alguém que eu não tinha nenhuma intimidade. E como ficaria a minha moral? Tinha uma aliança na mão esquerda. Casada há 25 anos com o “Barba Azul” como poderia viajar com um jovem na mesma cabine?
Questionando com o meu esposo ele me garantiu que não deveria me preocupar. O rapaz era educado e respeitoso. Mediante o que meu esposo explanou eu não tinha mais nada a dizer. Fui para o meu quarto violeta, joguei-me na cama. Mais tarde depois de pensar muito, tomei uma decisão.
Chamando meu esposo para uma conversa, disse-lhe:
—Por favor, cuidemos dos documentos do nosso divórcio. Já que você não pode me acompanhar não viajarei com um rapaz sendo casada. Estou ficando muito chateada de sair de carro sozinha sendo acompanhada por ele, recebê-lo todas as noites em casa e dormir na mesma cabine de um navio. É intimidade demais! Desculpe-me. Se é com ele que vou conviver tão próximo, nosso divórcio deve ser feito.
Meu esposo confessou que seria melhor ter aquele jovem cuidando de mim. Ele se sentia muito cansado, envelhecendo, não tendo mais “pique” para me acompanhar. Por amor a minha pessoa e a própria missão renunciaria ao nosso casamento. Eu teria oportunidade de ser mais feliz.
Inacreditável. Decisões tomadas. Realidade. Passados alguns dias eu entrei abraçadinha com meu esposo no fórum da Zona Norte de São Paulo.
Cumprimentamos o juiz e o mesmo sorrindo, disse-nos:
—Vocês querem se divorciar?
—Sim, respondemos, juntos.
—Assinem os papéis disse-nos os juízes.
Divorcio concluído. Saímos descendo as escadas abraçados e fomos para o shopping tomar sorvete como se nada tivesse acontecido.
Mais uma etapa da minha vida concluída.
Próximo capítulo dia 23/02/2019
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